domingo, fevereiro 01, 2015

Quando se fuma maconha na varanda....


Publicado em 04 de novembro de 2014

Aqui no condomínio onde moro, eu nunca vejo nenhum alerta para os que fazem festinhas regadas a muita cachaça até depois do horário permitido. Ainda não vi nada direcionado aos fanáticos por futebol, que em dias de jogo parecem animais enfurecidos xingando das suas varandas, um provocando o outro. Ou até mesmo algum comunicado para os que fumam o cigarro convencional na sacada o dia inteiro sem se importar para onde está indo aquela fumaça. Mas toda vez que alguém inventa de fumar um baseado em casa, a coisa muda completamente de figura.

A mobilização é geral. As famílias sentem-se inseguras, ameaçadas. Chamam síndico, convocam reuniões, tentam identificar os maconheiros a todo custo, cobram ação imediata. Aí soltam estes comunicados, para intimidar.

Dentro das suas leis, dos seus conceitos do que é certo e errado, as pessoas seguem se incomodando com atitudes “ilegais”, muito mais brandas, a meu ver, do que pequenos atos despercebidos no dia a dia. Muito mais incômodo para mim, é por simples questão de boa educação, eu dar um “bom dia” para um vizinho no elevador e receber em troca apenas um assustado olhar do tipo: “ o que esse maluco que não conheço quer comigo a esta hora?” Incomoda bastante o morador do lado mandar o zelador me ligar, para lembrar que não posso usar a furadeira no sábado após as 16h e para completar receber uma carta de notificação sobre o ocorrido. Será que não seria menos trabalhoso ele mesmo ter batido na minha porta e conversado?

Acho que o bom relacionamento e política de boa vizinhança estão sendo cada vez mais esquecidos pelas novas formas de convivência. Se por um lado, as coisas estão mais fáceis e práticas para alguns condôminos nos seus castelos cada vez mais fortificados, por outro, o abismo interpessoal vai ficando imensurável. E seguimos morrendo de medo dos maconheiros e achando estranhíssimo o vizinho de porta iniciar um papo para quebrar o gelo. Isso talvez seja motivo para formalizar o fato no livro de ocorrência. Nunca se sabe. Faltou açúcar em casa? Jamais pense em pedir emprestado para o vizinho. Isso é coisa do passado!

P.S – E antes que me perguntem, não fui eu que fumei maconha na sacada.
— em Lapa, Sao Paulo, Brazil.



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