quinta-feira, julho 15, 2010

O dia em que me senti menos homem

Cena do filme Boys Don´t Cry, com Hilary Swank: Homem afenimado ou Mulher masculinizada?


Escrevo esse fragmento não com a finalidade de debater nem questionar sobre os fenômenos da nova era, mas apenas relatar um fato interessante que me ocorreu um dia desses.

Na estação de metrô (pra variar) aparece na minha frente este rapaz (ou mulher?).Olhar enfezado, cabelo cortado curtíssimo, boné, tattoos e pearcings, calça folgadona que nos impedia ter uma definição sobre o seu corpo. Camisa folgada e tórax quase liso sem protuberâncias típicas do sexo feminino. Mas aquele rosto era muito liso. Seria um super barbear Mach3 ou aquela pessoa não possuía pêlos faciais? Aquela pele era muito fininha, muito lisinha ou o cara se cuidava com cremes de ultima geração? Com esse negócio de metrossexual, Emo, mulher masculina e outras vertentes agente anda se confundindo por aí.

Eu, sempre discreto, acho que tamanha curiosidade, já estava sendo um invasor, tanto que observava tentando chegar a alguma conclusão. Fiquei muito tempo sem conseguir definir e confesso até ter desligado o celular com fone, música e tudo para concentrar-me somente na tarefa de extrema curiosidade mórbida que tomou conta de mim naquele instante. Até que ele(ela?) atendeu o celular e tudo ficou mais claro.

Voz de mulher. Não podia ser um cabra macho de forma alguma, ainda que utilizasse gírias e palavreado indecifráveis, simulando um homem falando, mas de forma ligeiramente forçada. Por mais que tentasse ela não tinha testosterona suficiente pra conseguir um timbre mais viril. Era uma garota com cara de mau e que fazia de tudo pra se passar por um homenzinho. Mas aquela criatura estava me saindo abusada demais!! Tava com um papo de galanteador, conquistador de corações tão grande, que se eu tivesse um caderninho ali eu ia anotar algumas frases e até gírias pra tentar fazer uso se alguma vez fosse necessário. A menininha do outro lado da linha parecia que tava no papo.

Na hora de acomodar-me no vagão, já pronto pra retomar a minha rotina introspectiva com a minha música, chega a mulher macho ou o que quer que fosse e acomoda-se ao meu lado.Tudo bem, ela era até cheirosa! Viagem tranquila até que numa das paradas chega uma mulher bastante vistosa e pára à nossa frente. Como todo mortal, dei a minha discreta olhada de cima a baixo, alternando os intervalos e segui satisfeito, enquanto a menina-homem do meu lado se bulia toda. E suspirava, piscava, até sussurrou silenciosamente a palavra gostosa. Notei que se eu desse trela, iríamos comentar em condições de igualdade, de homem para homem, toda a empolgação ao ver uma mulher daquele porte à nossa frente. Continuei na minha, apenas observando, mas ela estava incontrolável.

Numa atitude que seria típica de um cavalheiro, mais uma vez ela surpreendeu.Cedeu o lugar para a moça que tanto observávamos. Relutante a princípio, a moça sentou-se e dali em diante começou a ser cortejada. A menina-menino tava jogando todas as cartas que tinha na mão, ainda que não tivesse um saco pra coçar. E a miserável sabia quebrar o gelo e ser simpática. A conversa não era idiota, apesar do jeitão e das gírias. Aos poucos a moça bonita foi cedendo ao papo, que num certo ponto ficou até bastante animado. Juro que eu ficaria até onde o metrô parasse e até as seguiria pra saber onde a historinha iria parar, mas não foi preciso. Num certo ponto, a bonitona começou a dar um gelo, não respondendo à mudança de rumo que a conversa começava a tomar e às investidas da destemida mulher-homem.

"Água mole em pedra dura... "

Tudo bem. A destemida não conseguiu atingir o seu objetivo, mas sua atitude foi digna de um garanhão. Se a bonitona fosse uma mulher no mínimo curiosa, simpatizante ou até num estado de espírito fragil, seria presa fácil e confesso, a cena iria fazer muitos homens ficarem inquietos e sentirem-se até um pouco menos homem, exatamente como eu me senti por alguns instantes. Confesso que saí de lá inconscientemente procurando reflexos meus nas janelas pra ver se tava tudo em ordem com os meus traços de masculinidade. A menina-menino naquela dia me deu uma pequena lição, talvez não de estilo, mas de audácia e destemor. Dizem por aí, e até concordo, que “Deus não dá asa a cobra” . No caso, se dessem um pênis para a nossa heroína, aposto que ela teria o mundo às suas mãos.

3 comentários:

V disse...

kkkkkkk... caderninho para anotar algumas investidas foi osso... rsrsrrsr
Quem naum arrisca , naum petisca!

Giselly disse...

HAuhauahuahuahuahuaa, viu só Mau... vai aprendendo...

Unknown disse...

A vida é uma caixinha de surpresas... E na verdade por pior que seja a situação, tudo tem seu lado bom! Rsrs...