Aeroporto de Madrid, 16/10/2014. Aguardando a hora do embarque.
Bem à nossa frente, senta-se um ruivo aparentando seus 40 anos. Inesperadamente, retira um spray da mochila e começa a borrifar nas próprias pernas. Não era possível identificar se era algum repelente ou desodorante. O fato é que ele não interrompia aquela ação, que se estendeu pelo resto do corpo e logo a senhora que estava sentada numa poltrona ao lado dele, pegou as suas bagagens, pôs no carrinho e saiu rapidamente sem olhar para trás.
Em seguida, ele guardou o spray , tirou uma lata de refrigerante de um largo bolso da calça e colocou o objeto dentro da mochila. Minutos depois, retirou de lá um picolé (desses recheados e folhados com casquinha de chocolate). Desembalou pacientemente o picolé e começou a retirar a casca de chocolate, jogando tudo no chão. Fez uma grande sujeira e pareceu um tanto agitado.
Procurando alguma forma de interlocução, olhou para mim com olhar vago e correspondi, por centésimos de segundos. Já era!!
Repetidamente, cada vez em tom mais alto, começou a falar, olhando fixamente para mim:
"I dont like chocolate in my ice cream!"
"I dont like chocolate in my ice cream!"
"I dont like chocolate in my ice cream!"
Uma expressão de transtorno começou a tomar conta da sua face. Ele batia com as mãos na própria testa. Tentei não olhar mais. Em seguida,deixei o local, com um certo receio.
Por uns instantes até pensei que se tratava de alguma pegadinha, porém não fomos procurados pela produção para que déssemos um sorriso para as câmeras escondidas. Não sou curioso nem nada, mas decorrido algum tempo, retornei ao local só para conferir se houve algum desfecho para o caso, mas lá, apenas o chão todo sujo, já com o chocolate derretido e nada do ruivo.
Podia ser uma crônica fantasiosa, mas é uma cena real das minhas andanças por aí. O ruivo me fez pensar, pois sempre da confortável posição de quem se julga normal, é fácil identificar um suposto ato insano, fazer piada, tirar sarro. De lá pra cá me questiono se hoje os mais doidos não são justamente os que cometem a loucura de serem ou aparentarem normais, tal como filosofava o saudoso Raulzito.
Será que surtei?
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