Em geral, logo que eles morrem há aquele bombardeio da mídia. Estas personalidades, se já não estavam mais no topo, voltam meteoricamente a ele. Novos fãs aparecem, os seguidores fiéis continuam lá firmes e os que nunca cultivaram nenhuma admiração por estas figuras, aproveitam a oportunidade para destilar a sua antipatia, muitas vezes utilizando de argumentos irracionais, puxando sempre para a vida pessoal destes. Quando a Cássia morreu, ouvi de um colega que uma drogada homossexual não deveria servir de exemplo para a juventude. Que eu deveria esconder a revista que levava a foto dela na capa. Preferi ignorar, como ignorei muitas outras vezes depois.
Michael Jackson partiu, e, de repente, ser fã dele passou a ser “cool”. Nas fases obscuras da sua carreira, abrir a boca pra falar que era seu fã significava ser apedrejado. Felizmente, muitos dos que antes atiravam pedras, hoje o admiram, quer por verdadeira afinidade, quer por apenas ficar bem na fita, mas isso faz parte das voltas que o mundo dá.
A Amy Winehouse é um caso muito recente. Enquanto uma pequena parte respeitosamente celebrava a sua memória nas redes sociais, a maioria moralista ou curiosa fazia questão de passar as suas fotos do antes e depois, como exemplo a não ser seguido, sequer abrindo um parêntese para o seu grande talento. E o caso do Steve Jobs? Ele bate a caçoleta, milhares de pessoas que já tinham um IPHONE há tempos e sequer sabiam quem ele era, automaticamente viram fãs incondicionais do cara. Passeiam até pelos shoppings vestidos com as camisetas que levam a sua caricatura estampada.
Eu posso estar misturando demais as idéias, mas primeiramente acho que deveríamos nos educar a saber separar o homem do artista. Artistas indiscutivelmente talentosos e dignos de admiração, não necessariamente são exemplos de seres humanos perfeitos, mesmo porque não há regra alguma que imponha isto. O que realmente importa é reconhecer, bater palma, tirar o chapéu para o seu talento que ficou documentado, sacramentado. Virou legado. Em segundo lugar, uma coisa que me incomoda enormemente nem é esta automática mitificação pós morte, mas a completa falta de personalidade e sensibilidade das pessoas diante deste fenômeno midiático. Como é fácil ver gente sem opinião própria, sem ousadia, sem conteúdo. Há de surgir o dia em que celebraremos a partida da Maria vai com as outras da face da terra, com toda cobertura e atenção a que temos direito.
Valeu, Cássia Eller!! Pela poesia, pela voz, por fazer tudo vir a ser autoral, pela ousadia e força!