quarta-feira, junho 23, 2010
Estoporando Tudo!!
Um dia desses martelou a minha cabeça aquela palavrinha que tanto escutava desde criança e agora não a encontro nem nos dicionários de termos regionais. Pelo menos com o significado que ela sempre teve pra mim.
ESTOPORAR!!!!!
Cresci ouvindo a minha avó reclamando quando a gente tomava banho quente, só vestia um short e saía bra brincar na rua no “vento frio”.
-Faz isso não, menino!! Você vai estoporar!!!
Certa vez num dos meus trabalhos passados (um hotel), um cliente fez uso da sauna por 1 hora, saiu de lá tinindo e deu um revigorante mergulho na piscina de água fria. De lá do fundo da piscina não saiu mais. O homem morreu, e além de muita comoção causou um enorme trabalho pra todos que estavam no plantão. A parte mais interessante naquele final exaustivo de expediente, foi ouvir os relatos dos garçons, cozinheiros e até seguranças que lá estavam e pararam tudo pra fazer aquela roda ao redor do defunto só dando pitaco. Cada um tinha uma teoria para a causa da morte do coroa. Uso irrestrito do viagra, suicídio devido a uma discussão com a namorada e até afogamento (no raso) foram apenas algumas das supostas causas relatadas.
O mais interessante foi um garçom, Sr. Edivaldo, o rouco, que deu o diagnóstico ainda lá no local quando a equipe de paramédicos tentava reanimá-lo:
-Morreu estoporado!! Onde já se viu sair da sauna, nesse calor disgraçado e cair de vez na água fria?? Estoporou!!!
Meses depois, quando o resultado da perícia técnica e autópsia saíram, o assunto foi o tema de um dos cursos na área de segurança do trabalho que davam lá na empresa. O homem fazia uso de alguns medicamentos controlados. Era cardíaco e teve um infarto fulminante. A a possibilidade do choque térmico ter desencadeado tudo foi mantida. Quando falaram isso, o garçom Edivaldo, com a sua voz de resfriado, saiu de lá radiante, realizado da vida!!
-Tá vendo que falei??? Morreu estoporado!!
É, pessoal!!! Todo cuidado é pouco!! Depois dessa lição sobre estoporamento, fiquei muito mais cauteloso, pois canso de tomar café quentíssimo e depois ir escovar os dentes com a água fria. Minha avó sempre disse que isso ia me deixar com a boca torta e o esmalte dos dentes iam “estralar”. Vai que acontece de verdade, como com o finado hóspede?
terça-feira, junho 01, 2010
Fone de Ouvido
De repente, todos naquele cantinho do trem tinham algo em comum. O adolescente imberbe, sério e distante. Passa a mão levemente na base do nariz e com olhos baixos faz aquele típico gesto, examinando as pontas dos dedos. Alguns disfarçam melhor, mas naquele estado de dispersão, o garoto até que se saiu bem discreto. O que estaria escutando naqueles fones de ouvido? A senhora logo ao lado, com seu moleton azul, deixando aparecer no pescoço um escapulário com a minúscula imagem da Nossa Senhora de Guadalupe. Por trás daqueles óculos de grau fortíssimo congelados no infinito, uma fisionomia cansada e triste. Com seus fones plugados na concavidade auricular, ela também escutava algo. O que seria? E tinha aquela jovem mascando chiclê compulsivamente. Seus olhos expressivos e cabelos ruivos. Era gordinha e linda aquela jovem. Os seus olhos pareciam já sorrir, antes mesmo dela pôr os dentes à mostra. E ela sorriu! Ela e seus fones de ouvido. O que estaria escutando aquela jovem?
Maurício Sampaio
O poder curativo do pó de café
Mais um mito concretizado de quando eu era criança pequena lá longe, bem longe, perto da casa da porra, em Salvador....
Certa vez, o Muruim, um menino que era o capeta em figura de gente,brincando de correr em casa, tropeçou e caiu com a testa na quina pontuda da mesa de centro da sala de estar.
Pânico geral! Em casa, só as crianças e a Dona Edna, empregada responsável por manter a ordem do lar. O menino desesperado chorando e gritando, se esvaindo em sangue. Ninguém enxergava direito o ferimento, tamanha a quantidade do vermelho fluido que jorrava insistentemente da testa. Era uma imagem aterrorizante para as crianças, que gritavam copiosamente.
Dona Edna, muito nervosa, liga pros pais do menino e recebe aflita algumas instruções para chamar por socorro. Na tentativa de estancar o sangue, passa água no local sem sucesso. Enrola um pano. Pior ainda. Logo tava tudo manchado de vermelho. O sangue não parava de jorrar. Ela respira fundo e tudo se ilumina! Lembrara do melhor remédio para estancar sangue que poderia existir! Esse fora inúmeras vezes usado desde os tempos de infância da sua avó, lá da cidadezinha do interior de onde veio.
Ela vai até a cozinha correndo e volta esbaforida com uma vasilha plástica em mãos.Dentro daquela vasilha havia um conhecido pó escuro. As crianças chorando assustadas, pararam por um instante seguindo cada passo da Dona Edna. Com veemência, ela segura o garoto pela cabeça, aplicando-lhe na testa dois generosos punhados de pó de café. Aquilo criou uma estranha papa marrom avermelhada na testa da criança. Mais uma generosa talagada na testa e o sangue em instantes estava estancado.
Difícil descrever a imagem do rosto da criança naquele momento. Era uma mistura de sangue, café, lágrima... parecia uma face enlameada, saída de um mangue com a adição de alguns detalhes, cores e texturas. Passada a fase crítica dos primeiros socorros, ela ainda teve tempo de vestir o menino, despachar as demais crianças da vizinhança para fialmente pegar um taxi até o pronto socorro. Lá, mesmo após tamanho esforço e profissionalismo, teve os seus métodos assépticos e estancatórios duramente criticados pelos médicos e posteriormente pelos pais do Muruim. Felizmente, não houve maiores consequências. Ela permaneceu empregada por anos na mesma casa e o Muruim permanece vivo até hoje, sem sequelas.
Defendo aqui, mesmo muitos anos depois, a nobre atitude da Dona Edna. Afinal, o sangue estancou ou não estancou? Dentro do seu alcance e conhecimento técnico, ela fez ou não o correto? Será que se a sangria continuasse, o menino chegaria com vida ao hosital? Ela merece um prêmio por ter agido bravamente e recorrido aos bons e infalíveis métodos da sabedoria popular. Parabéns, D. Edna!!! E fica a lição para a próxima situação de emergência sem recursos imediatos. Pó de café pra estancar!!!
Bienal
Há tempos que eu não escutava esta loucura de composição. Hoje ela me inspirou, e como agradecimento aos mestres Baleiro e Ramalho,aqui vai o vídeo (não oficial) e a letra.
Bienal
Zeca Baleiro
Composição: Zeca Baleiro / Zé Ramalho
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Bienal
Zeca Baleiro
Composição: Zeca Baleiro / Zé Ramalho
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
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