Era uma tarde de muito sol
Naquele mesmo instante, sobe as escadas um jovem com a sua filhinha de mãos dadas. A garotinha, na curiosidade dos seus 4 ou 5 aninhos, pergunta ao pai assustada observando, o que teria aquele homem, que não conseguia subir as escadas. O pai surpreendentemente, ao invés de arrastá-la para longe da cena como muitos o fariam, ficou ali com a criança, bem pertinho do bêbado “agonizante”, explicando, fitando-o e quase dialogando com o mesmo:
- Ele está assim, filha, porque não comeu direito de manhã. Ele ta fraco, tá vendo? Não consegue subir as escadas. Logo ele vai melhorar!
O bêbado consegue subir mais uns degraus. Curiosidade defeita, a garotinha retoma o seu destino convencida com a explicação do pai.
Uma cena cotidiana, até inusitada, mas que me transportou.O papel daquele jovem pai, com atitude tão simples foi encantador. Foi como assistir ao filme “A Vida é Bela”. Aquele que se passa na Segunda Guerra. O pai judeu, simples, amoroso e espirituoso que consegue manter a visão inocente da sua criança, fazendo-a crer que o campo de concentração era uma grande brincadeira. Pensei muito sobre a relação entre pais e filhos. Fico feliz por compreender cada vez mais um pouco o que significa esse amor incondicional. E no pouco tempo de prática da minha “independência”, longe deles, me vejo fazendo algo semelhante, tornando as coisas as vezes mais brandas afim de tanquilizá-los. O mundo é cruel, e eles já sabiam disso antes da nossa existência. Respeitemos os nossos velhos e verdadeiros sábios!!
Maurício Sampaio