domingo, março 27, 2016

A arte de dirigir e tirar meleca


Trânsito de Sampa de manhã cedinho, já bastante intenso, mas não deixo de observar as pessoas ao volante, sonolentas, ou já irritadas, muitas delas distraídas ao celular, uma quantidade enorme de pontas de cigarro sendo arremessadas das janelas dos carros (isso merece uma resenha à parte) e muita gente que tira meleca enquanto dirige. E assim segue o fluxo...

Eu não vejo ninguém comentar que viu alguém tirando meleca ao volante. É um tema pouco debatido nos programas de TV e bastante carente de dados estatísticos. Por isso, compartilho um pouco do que observo todos os dias no meu caminho, a fim de oferecer subsídios para posteriores estudos e dissertações.

Os indivíduos que tiram meleca ao volante são 95% do sexo masculino. Os do tipo A, são mais lúcidos, possuem uma boa noção do que acontece ao seu redor. Assim que eles sentem a famosa coceirinha no nariz relutam, olham pros lados, certificam-se de que não estão sendo observados, para então discretamente iniciarem o ritual. Disfarçam coçando uma região próxima ao nariz e aos pouquinhos vão deixando a ponta do dedo entrar. Sempre dão uma paradinha, olham para os lados e vão acumulando alguns pequeninos flocos nas pontas dos dedos. O material resultante, normalmente é depositado debaixo do banco do carro.

Os motoristas do tipo B são radicais. Confiam demais nas películas escuras dos vidros, num quase estado de torpor, não se importando com o mundo ao seu redor. Enfiam o dedo no nariz sem cerimônia, demoradamente. Dão aquela olhadinha nas pontas dos dedos, analisando cor e textura da meleca, repetem a operação por algumas vezes e vão confeccionando as bolinhas, que às vezes ficam presas ao volante ou câmbio, havendo a necessidade de reiniciar o processo. Ainda não temos documentado como é feito o descarte do material, mas suspeita-se que ele é consumido pelo usuário, para que se inicie um novo ciclo, visto que em praticamente todos os casos, não há o arremesso final pela janela do veículo, nem o depósito nos bancos.

Cidadãos de bem, trabalhadores, com a habilitação em dia e sem nome sujo no Serasa. Os motoristas que tiram meleca estão por aí, e basta um olhar mais atento para percebê-los ao nosso redor. Comprovado o fato, não cabe julgá-los ou virar de costas para esta realidade. Cientes de que frequentemente apertamos as mãos destes motoristas, devemos também ter a humildade de nos classificar em algum dos tipos acima citados, quando estamos na direção. Que atire a primeira pedra quem nunca teve uma coceirinha no nariz e não colocou um destes planos em ação.